terça-feira, 10 de março de 2015

Por uma nova panela de pressão, como nos velhos tempos!

Manifestação contra o governo, pedindo intervenção militar e lutando contra o comunismo que assola o Brasil bolchavista


Existe um falso mito no Brasil de que o grau de politização é proporcional ao de educação formal, que por sua vez, é proporcional à renda. Ou seja, quanto maior a renda, melhor a escolarização e, por sua vez, maior o grau de politização. Isso é falso. A renda e a qualidade da escola podem até fazer a diferença na hora de aplicar o Teorema de Pitágoras, descrever uma fotossíntese ou calcular os prótons e elétrons, mas tá longe de formar politicamente um indivíduo.

Está cada vez mais nítido que escolarização não é sinônimo de politização. É um instrumento para, mas não é sinônimo de. No Brasil, são os mais pobres, os que vêm do andar de baixo, que, até por necessidade, sempre passaram por uma educação política maior. Todo o processo de criação e atuação em movimentos, associações, protestos, sindicados, organizações, etc. exige uma formação política e uma vivência que faz a pessoa perceber na prática como funciona a política. A própria atuação política exige a escolha de bandeiras de lutas e um desgastante processo de discussão e debate. Já os mais ricos, são carentes desse processo. Estão longe dos espaços de formação política e têm pouca experiência sobre os meandros da política institucional.

O que mais reforça essa tese é a nossa atual oposição. Antigamente, a oposição vinha das classes mais populares, em crescente processo de organização e politização, para lutar por mais direitos e oportunidades. Hoje, a oposição vem dos setores mais abastados economicamente, numa luta pela manutenção de seus privilégios. A oposição antigamente defendia suas bandeiras e seus projetos. Qual é a bandeira e os projetos da atual oposição, se não fazer uma campanha de ataque ao atual governo?

E nessa cruzada despolitizada, essa oposição revela suas próprias ignorâncias. Não discute ideias, nem projetos. Muitas vezes não compreende o funcionamento das instituições e as atribuições de cada uma. Replica e formula teses e argumentos a partir de notícias falsas ou deturpadas. Enfim! Basta passar um dia no facebook, para perceber que essa oposição não traz discussões de projetos políticos; não compreende algumas leis e muito menos o processo constitucional de formulação e aprovação das leis; não entende o papel de cada instituição. Apenas replica ataques ao governo, querendo ganhar no ódio.

Em outras palavras, a cada dia que passa, essa atual oposição, mais rica e escolarizada, revela sua ignorância e sua inexperiência política.

Manifestante nacionalista


No meu tempo de adolescente, saíamos às ruas para protestar contra o projeto econômico da ALCA, pela soberania do país em relação aos Estados Unidos; contra a intervenção do FMI, pela autonomia do Estado; contra as privatizações, pelo fortalecimento das estatais; contra a mídia de propriedade de políticos e seus familiares, pelo direito à comunicação e liberdade de expressão; contra a impunidade, pela cassação de políticos flagrados em corrupção e que só precisavam renunciar para não serem cassados, além de um Procurador Geral que era conhecido como “Engavetador Geral”; pela Reforma Agrária; pelo fim do coronelismo, pela democracia.

Ou seja, tínhamos bandeiras de luta. Essas bandeiras podem até serem questionadas, contrariadas, aliás é justamente isso que aumenta a formação política da sociedade e fortalece a democracia. Mas, pelo que a oposição de hoje luta? No seu discurso, apenas pautas genéricas: contra a corrupção, por mais educação e saúde, contra a violência. Ora, quem aqui não defende essas mesmas coisas? O que difere os segmentos é o caminho que cada um escolhe para se chegar a esses objetivos e para quantas e quais pessoas essas conquistas chegarão. A própria defesa de pautas genéricas, sem discutir as formas de se chegar lá, já revela a superficialidade do discurso.

No entanto, tudo na vida é um aprendizado. Se a atual oposição, que é mais rica, escolarizada, ignorante, analfabeta política e inexperiente do que a do passado recente, não possui um projeto político de interesse do país, por outro lado vem se organizando e ganhando a guerra de informação, além de ocupar espaços de política: as ruas, varandas de condomínios de luxo, que gera mídia e as redes sociais. E, com isso, estão conseguindo pautar o debate político atual.

Nós, que fomos oposição no passado, poderíamos continuar sendo oposição ao atual governo. Poderíamos ir às ruas lutar pela Reforma Política, pelo Direito à Comunicação, pelos Conselhos Populares, pelo fim do auto de resistência, pela Reforma Agrária, pela taxação de grandes fortunas, pelo fim do financiamento privado de campanhas, e por tantas outras bandeiras que nunca brotaram do nada, sempre surgiram do próprio debate, contradição, atuação, tensão e formação política individual e coletiva. Mas, infelizmente, temos que acabar fazendo o papel de situação, sem avançar nas principais reivindicações, pois estamos sendo pautados pela atual oposição.

Já passou da hora de aproveitarmos esse momento político aparentemente desfavorável e reverter ao nosso favor. Aproveitar a crise no Legislativo e afastar Eduardo Cunha e Renan Calheiros, retomar o trabalho de base e pressionar Congresso e Governo para avançar nas políticas de interesse público, que ampliem direitos e oportunidades para cada vez mais gente. Ou seja, fazer o que melhor sabemos fazer: debater projetos, formar e se formar politicamente, se organizar e ir pra luta. E deixem que os carentes de projetos continuem fazendo o que mais fazem: replicar notícias falsas nas redes sociais; atacar, ofender e xingar a presidente e o partido do atual governo; e bater panela na varanda. De preferência com um cabo bem longo.

Revolta do Buzu, Salvador, 2004


Sugestões:
Pra todo dia: deixar de ser pautado e começar a pautar o debate, trazendo bandeiras essenciais, e debatendo nas redes sociais, com o vizinho, no trabalho, etc. Ou seja, voltar a discutir projetos políticos para o país, em vez de paralisar o debate para ficar respondendo a provocações de panelas e impitman.

Pra ontem: se (re)organizar coletivamente em torno de algumas pautas fundamentais e (re)iniciar o trabalho de base, levando a discussão de idéias e projetos políticos para dentro das escolas, faculdades, sindicatos, facebook, poder público, etc.

Pra abril: atos e manifestações pedindo a renúncia de Renan Calheiros e Eduardo Cunha da presidência do Senado e Câmara, além do afastamento dos demais investigados no Lava-Jato da Mesa Diretora; e que Gilmar Mendes desarquive o processo que pede o fim do financiamento privado de campanha.


e assim a gente continua empurrando o Brasil pra frente, antes que ele seja empurrado pra trás.